O glorioso Esporte Clube Rio Verde da Piracuruca

Registro do dia 31 de maio de 1987, estreia oficial do Esporte Clube Rio Verde, na preliminar do jogo entre Seleção de Piracuruca e Tiradentes. O jogo foi contra o Bigbox de Piripiri e terminou 3 a 2 para o time piripiriense.

Continuando a série “Memórias do Futebol Piracuruquense”, agora falarei de uma geração que cresceu vendo futebol e também batendo bola nos diversos campos que existiam na década de 1980 em Piracuruca. Quem viveu nessa época lembra dos campos do Anísio Brito, Graxa, Sem cueca, Finado Mário, Estação, IAPEP, Guarani, Colibri, Zé Boto, Barrocas, Tijuca e por aí vai. Pouco antes dessa foto, a seleção brasileira tinha perdido mais uma Copa do Mundo, em 1986 no México, infelizmente o Zico perdeu aquele pênalti contra a França. Portanto, toda essa turma, que nasceu a partir de 1969 ou 1970, não tinha ainda visto o Brasil ser campeão mundial.

No entanto, tínhamos nossos ídolos, principalmente Zico e Roberto Dinamite. Quando não dava pela TV, nós acompanhávamos os jogos pelo rádio, principalmente a Rádio Globo com os seus Apolinho e José Carlos Araújo. Era uma época de Adílio, Andrade, Reinaldo, Leandro, Acácio, Washington, Assis, Branco, Edinho, Mozer, Oscar, Luizinho, Careca, Júnior e uma quase interminável lista de ídolos. Acredito seriamente que os de hoje teriam uma séria dificuldade de amarrar as chuteiras desses aí de cima.

No Piauí, era os tempos de Sima, Joniel, Sabará, Zuega, Ronaldo, Bitonho, Zezé, Luis Eduardo, Paulo César Vilarinho, Tucha e muitos outros também, nesse ano de 1987, só deu Flamengo. O Flamengo piauiense sagrou-se bicampeão estadual, e no ano seguinte, em 1988 foi tricampeão, em um jogo histórico contra o 4 de julho de Piripiri. Logo no primeiro ano de profissional, o time piripiriense chegava à final do campeonato e foi derrotado pelo Flamengo, o torcedor vagalume lembra com certeza do gol do flamenguista Etevaldo, selando o placar de 2 a 1 e entristecendo toda a Praça da Bandeira em Piripiri, eu tava lá.

Já o Flamengo de Zico, Renato Gaúcho e Bebeto, era campeão da Copa União, o polêmico módulo Verde. Bebeto, com um passe de Andrade, venceu Taffarel, goleiro no Internacional, na final no Maracanã e o Mengão levantou outra taça. Bom, vejam que não faltavam motivos para a empolgação da molecada, ainda mais com a Seleção de Futebol de Piracuruca, em épocas de Torneios Intermunicipais empolgantes, a nossa seleção perseguia o título, o que veio a acontecer por duas vezes, em 1989 e 1990. Eu estava lá, no Lindolfo Monteiro, nas duas finais e essa será uma outra história. Na época a Seleção de Piracuruca recebia as equipes profissionais do Piauí para amistosos, eram festivas as tardes futebolísticas de domingo na Piracuruca.

Bom, os craques locais tinham Cafá como o grande nome, seguidos por Tadeu, James, Rufino, Miguel Amaral, Zé Mombal, Bacabal, Lacerda, Zé Kléber, Fernando Perninha, Eberval, Neto e outros. Além disso, a seleção recebia muitos jogadores de fora, destaque para os goleadores Calhambeque e Pai Cheroso e também outros como Petrônio, Ronaldo (irmão do Piauí), Júnior Feijó, Reginaldo e por aí vai. Não há quem esqueça os embates contra a seleção de Piripiri, com Derica, Manoelzinho, Dr Luiz, Cabo Rei, Lúcio, Batistinha e o incansável e matador Didi. Miguel Amaral correu muito atrás do Didi, levantando a areia do estádio Ribeirão em Piracuruca.

Vendo tudo isso, um grupo de jovens dirigentes, formado por: José Nílson, Djalma Morais e o lendário e sumido Rato Branco, resolveram juntar a molecada dos bairros e formar um time de futebol infanto-juvenil em Piracuruca. O foco na época era bater de frente contra a molecada de Piripiri, o futebol da cidade de João Cláudio Moreno, sempre foi destaque no cenário piauiense e naquele tempo, despontava para o futebol o jovem Alencar, seguido pelo seu primo Dilson (saudosa memória), Bilera, Pinto e muitos outros, alguns inclusive chegaram ao futebol profissional.

O time de Zé Nílson, Djalma e Rato Branco ainda não tinha nome, foi então, na calçada do mercado de Piracuruca, que eu sugeri o nome de Rio Verde. Tinha esse nome na cabeça, de fato era um time profissional do Estado de Goiás que eu simpatizava muito e sempre torcia para ver os gols desse pequeno clube nos “gols do fantástico”. De pronto, foi acatado o nome de Esporte Clube Rio Verde e o passo seguinte foi ir até a Rádio AM Sete Cidades e dar uma entrevista para Wilson Siqueira, era de impressionar a desenvoltura do dirigente Rato Branco nessa entrevista.


Escudo e uniforme do Esporte Clube Rio Verde. Hoje a equipe, que é da cidade de Rio Verde-GO, disputa a terceira divisão do campeonato goiano.

A empolgação do Rio Verde, motivou a criação de um outro time na cidade, o Globotec, esse time já disputava o campeonato adulto e foi então criada a equipe infanto-juvenil, passou a ser portanto, o grande rival do Rio Verde, tanto no futebol de campo, como no futebol de salão, eu joguei por esse time e tenho muitas boas recordações, ao lado de Toinho, Clodoaldo, Neneca, Gutemberg, Marcos, Lisandro, etc.

O Rio Verde se estruturava e seus dirigentes penavam para controlar os atletas, principalmente em dias que antecediam os jogos, era comum ver os atletas nas Churrascarias Colonial, Beira Rio e Amazonas e as intermináveis noites de farra que acabavam em diálogos que só o Goleiro Joaquim e o cartola e zagueiro Zé Nílson entendiam. O pano de fundo era um prato de panelada na Maria Culí ou na Graça Cota, além de um litro de 88 com coca pra descer.

Antes desse grande jogo de estreia, contra o Bigbox de Piripiri, o Rio Verde foi disputar um jogo amistoso no povoado São Luiz em Piripiri. Dia de expectativa, chuteira na sacola, passagem comprada no Barroso e seguia a delegação, alguns com ressaca, mas seguiam. Chegando no povoado, que fica na margem na BR 343, saímos perguntando onde era o campo de jogo. Apontaram para nós um vereda e disseram: “é por ali”, e fomos. O problema era que no caminho tinha uma roça de melancia, e alguns jogadores estavam com fome e não se importavam de pular cerca de arame farpado, com muito jeito passaram o cercado e deram um desfalque na roça alheia, foi quando o dono educadamente disse “larga a melancia bando de ladrão”. Bem, a passagem de volta pela cerca, foi bem mais rápida.

O time entrou correndo no pequeno campo – afinal de contas, não precisava mais aquecer – e já na metade do primeiro tempo, o dono da roça chegou. Felizmente não se pode encerrar uma atividade desportiva tão importante por causa de algumas melancias e por isso o Rio Verde não sofreu um sério desfalque no seu elenco. O dono da roça acabou assistindo o jogo e esquecendo do ocorrido. Bom, voltando para casa, era se preparar para a grande estreia, faltava um jogo de camisas decente, e então o Sr. Pedro Cardoso, então funcionário do Banco de Brasil, forneceu as famosas camisas listradas em alviverde para vestir o time, o uniforme foi pago em suaves prestações.

Poucos dias antes do jogo, eu saí do time, uma atitude impensada que me fez desaparecer dessa foto, sem dúvida um dos sérios arrependimentos que eu tenho na vida. Não está registrada a minha presença aí ao lado dos meus amigos de pescaria, de caçar de baladeira, de brincar e de beber alguma coisa que tinha álcool. Mas de consolo, eu voltei ao time em 1989, depois de regressar do Colégio Agrícola eu ainda disputei o campeonato adulto pelo Rio Verde, era um zagueiro muito limitado, mas não era o pior, tinha um certo problema com quem colocava a bola na minha frente, eu costuma impedir a passagem, as vezes um pouco rude demais e o juiz não entendia e acabava sempre por me expulsar.


Em pé: João Alberto (treinador), Joaquim (goleiro), Zequinha, Eudes, Everaldo (Pé de Gancho), Zé Nilson, Flávio, Vandilson, Nemias e Ricardo (falecido). Agachados: Daylan (falecido), Rato Branco (dirigentes), Édson (Magal), Chico, Zezim Goiaba, Fernando Amaral, Jorge e Rivelino.

O glorioso Rio Verde, encerrou as atividades, mas ainda bate bola na nossa mente, uma época de ouro, que olhamos para trás e vemos que tudo valeu a pena. Hoje, nenhum atleta, apesar de tudo, já se passaram 33 anos, estamos beirando os 50. Somos professores, funcionários públicos, comerciantes, autônomos e, através das redes sociais, ainda relembramos as velhas histórias e momentos que passamos.

Aqui, os irmão Morais, Eudes e Djalma.

Aqui, uma saudosa lembrança de alguns que estão nessa foto e que já se foram. Como o Daylan, e o Ricardo, além de tudo, foram meus colegas de alojamento e de Escola Agrotécnica de Piripiri em 1988. Que estejam em paz e melhor do que nós. A torcida maior hoje é pela recuperação do nosso goleiro e amigo de infância Joaquim, que está passando por dias muito difíceis, mas que não deixa morrer a nossa esperança de vê-lo novamente com saúde.

Salve o glorioso Rio Verde da Piracuruca.