Do centro de Piripiri pela BR-343 rumo a Fortaleza percorre-se 10 km até uma estada piçarrada, a PI-325, rumo ao povoado Formosa, por cerca de 13 km. Pronto: estamos no bucólico e pitoresco povoado de Olho d’Água Grande.
Esta aglomeração rural conta com umas cem casas e foi constituída pela implantação de fazendas pertencentes às famílias cearenses Dornel e Teixeira, que vieram do Ceará fugidas de uma seca no ano de 1932. Seus descendentes casaram-se entre si e constituem a maioria dos moradores locais.
Sem dúvida os antepassados da população atual não poderiam ter encontrado lugar mais atrativo e alvissareiro: água farta brotando do solo em várias nascentes, que não fenecem nem mesmo durante a mais crítica estiagem.
VISTA DA PORÇÃO CENTRAL DO POVOADO.
Povo pacato, acolhedor e trabalhador, sua população gira economicamente em torno da agropecuária de subsistência, havendo alguns pequenos cultivos comerciais como de bananas e cana-de-açúcar.
A religiosidade se faz patente nos festejos de São José, padroeiro local, realizados entusiasticamente em agosto.
CAPELA DE SÃO JOSÉ, O PADROEIRO LOCAL.
Cercado por serrotes e morros, Olho d’Água grande possui características geológicas que faz o povoado se tornar um verdadeiro oásis no entremeio de lugarejos com irregularidade pluviométrica. Várias nascentes perenes dentro do povoado atestam a fartura hidrogeológica local do aquífero Cabeças, composto por arenito, conglomerado e siltito, havendo em alguns trechos intrusão de diabásio, observados aflorando na forma de blocos arredondados.
O POVOADO É CERCADO POR SERROTES E MORROS COM VEGETAÇÃO RELATIVAMENTE AINDA BEM CONSERVADA.
NO MEIO DE UMA VEGETAÇÃO DENSA, CONSTITUÍDA DE ESPÉCIES NATIVAS E EXÓTICAS, UMA UMIDADE DE SOLO QUE IMPULSIONOU E FIXOU O POVOAMENTO LOCAL.
A estabilidade hidrogeológica local deve-se a manutenção da vegetação em torno das nascentes, onde prevalecem espécies exóticas como mangueira e açaí (típica da Amazônia) e ainda nativas, como oiticica e buriti. São as centenárias e sombreantes mangueiras que, junto aos incontáveis buritizeiros proporcionam maior regulagem do lençol freático. A preservação desta vegetação fixa o solo, tornando-o permeável às águas da chuva, evitando as intempéries do sol, das enxurradas e do vento, que poderia provocar sulcos com arraste de material, fornecendo também matéria orgânica para o solo.
ESTE FOI A PRIMEIRA NASCENTE QUE OBSERVAMOS NO POVOADO. FOI PROTEGIDA COM CIMENTO E TIJOLOS E CONSTANTEMENTE É LIMPA PELOS MORADORES, QUE ZELAM CIOSAMENTE HÁ MAIS DE 80 ANOS POR ESTE PATRIMÔNIO NATURAL.
Um detalhe que foi fundamental para a fixação do homem no campo foi a perenidade das nascentes, que resistem a qualquer estiagem, proporcionando aos retirantes de então a abundância de recursos hídricos, carentes nos lugares de onde vieram. Sem dúvida foi uma benção da natureza encontrada pelos antigos imigrantes cearenses que por lá se estabeleceram em 1932.
A SEGUNDA NASCENTE QUE ENCONTRAMOS. DURANTE O PERÍODO DE CHUVAS TODAS EXTRAVASAM E FORMAM RIACHOS CAUDALOSOS.
Aplicando um nível de organização social próprio, a população de Olho d’Água Grande emparedou algumas nascentes à maneira de piscinas, sendo conhecidos como banheiro das mulheres e banheiro dos homens. A privacidade entre os sexos é garantida por cercas de palha de carnaúba. Na dos homens toma-se banho numa piscina, enquanto um outro tanque menor anexo (onde está a nascente) canaliza água para a o banheiro das mulheres.
Hoje, mesmo com o abastecimento comunitário de água de poço tubular e alguns poços particulares, o que proporciona água encanada a todas as residências, muitos ainda usam as piscinas como lazer e para lavar roupa.
ESTE É O BANHEIRO DOS HOMENS, LOCAL ONDE A RAPAZIADA TOMA BANHO, SENDO A TERCEIRA NASCENTE OBSERVADA. O CANO DE CIMA EXTRAVASA ÁGUA COM AS CHEIAS. O DE BAIXO SERVE PARA DRENAR A ÁGUA E FAZER A LIMPEZA. AO LADO, EM MENOR NÍVEL A PISCINA COM A NASCENTE, QUE LEVA TAMBÉM ÁGUA PARA O BANHEIRO DAS MULHERES.
Uns vinte ou trinta metros adiante, também cercada por tapumes de palha, está o “banheiro das mulheres”, onde também se toma banho, mas predominantemente se lava roupa. A etiqueta social local impõe que ao se aproximar dos banheiros o visitante do sexo oposto deve perguntar em voz alta se tem alguém tomando banho, notadamente em relação às mulheres.
ESTAS CERCAS DE PALHA GARANTE PRIVACIDADE AO BANHEIRO DAS MULHERES.
COM ÁGUA CORRENTE, GERALMENTE MUITOS LAVAM AS ROUPAS AQUI, NO BANHEIRO DAS MULHERES, EMBORA TODAS AS CASAS POSSUAM ÁGUA ENCANADA COMUNITÁRIA, VINDA DE POÇO TUBULAR COM VOLUMOSAS CAIXAS DE ARMAZENAMENTO.
A QUARTA NASCENTE, TODAS NUMA ÁREA POUCO SUPERIOR A 2.000M².
A QUINTA NASCENTE: NESTA HÁ UMA BOMBA SUBMERSA QUE PUXA ÁGUA PARA A CASA DE UM MORADOR.
A SEXTA NASCENTE. COMO EM TODAS, A VEGETAÇÃO SE FAZ PRESENTE EM SUAS MARGENS.
Existem ainda outros “olhos d’água” que não visitamos. Porém, o que vimos foi suficiente para comprovarmos a riqueza hidrogeológica local, mesmo no mês de dezembro, quando ainda não começaram as chuvas. A falta de água nunca foi um problema para os moradores povoado. Nunca um dos mananciais do povoado secou.
ESTES PEDREGOSOS LEITOS SECOS SE TORNAM RIACHOS CAUDALOSOS DURANTE O PERÍODO DE CHUVAS, COM A INSTENSIFICAÇÃO DA ÁGUA JORRANTE DO SUBSOLO E COM AS ÁGUAS QUE DESCEM DAS ENCONSTAS DOS MORROS QUE CERCAM O POVOADO.
Historicamente, no lugarejo existem poucas casas que atestem a relativa antiguidade de seu povoamento. Encontramos uma delas, porém já foi bastante alterada nas últimas décadas. Parte de tijolos, parte de taipa, conserva das antiguidades os tradicionais jiraus nos cômodos, onde se penduram mantimentos, utensílios, etc.
ESTA É UMA DAS CASAS MAIS ANTIGAS DO POVOADO, PORÉM JÁ MUITO MODIFICADA. ORIGINALMENTE ERA INTEIRAMENTE DE TAIPA.
NOS TRONCOS DE MADEIRA ROLIÇA O APOIO PARA AS TRADICIONAIS REDES.
EM CASA RURAL ANTIGA PIAUIENSE NÃO FALTA A TRADICIONAL BILHEIRA E OS POTES.
OS VELHOS BAÚS EMPOEIRADOS SE MISTURAM COM MODERNAS EMBALAGENS PET PARA GUARDAR FEIJÃO. OBSERVEM NESTE CÔMODO A ORIGINAL PAREDE DE TAIPA.
NA COZINHA, O TRADICIONAL FOGÃO A LENHA, QUE DESPERTA A GULA DOS APRECIADORES DA CULINÁRIA RURAL.
COMO QUE ABANDONADO NUM QUARTO ESCURO, UM IMENSO CAIXÃO DE GUARDAR FARINHA. POSSUI CERCA DE 1,70 METROS DE ALTURA.
JÁ EM OUTRA CASA, DO SR. SALES TEIXEIRA, A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E MATERIAL DA COZINHA, TÍPICA DOS LUGAREJOS RURAIS PIAUIENSES.
TRADICIONAL FORNO DE BARRO, ONDE SE ASSAM DELICIOSOS LEITÕES, GALINHAS, BOLOS, ETC.
O BAR DO TOINHÃO É REFERÊNCIA NO POVOADO. ALI SE ENCONTRAM OS AMIGOS PARA O BATE PAPO, REGADO A UMA CERVEJA OU PINGA.
SR. SALES TEIXEIRA NOS MOSTRA SUA CASA DE FARINHA. INFELIZMENTE A ÉPOCA NÃO ERA DE FARINHADA.
PRENSA PARA PRODUÇÃO DE FARINHA DE MANDIOCA.
Segundo nosso amigo Nonato Teixeira, dono do melhor restaurante popular do centro de Piripiri e orgulhoso olhodaguense, seu povo é festeiro e estes eventos ocorrem sempre com muita animação e tranquilidade.
O OLHODAGUENSE NONATO TEIXEIRA EM SUA LANCHONETE E RESTAURANTE NO CENTRO DE PIRIPIRI, LOCAL ONDE OLHODAGUENSES OU NÃO ACORREM EM GRANDE QUANTIDADE PARA SE DELICIAR DE CULINÁRIA TÍPICA, COMO MÃO DE VACA, PANELADA, SARAPATEL, GALINHA CAIPIRA, ETC.
FAIXA ANUNCIANDO A FESTA DE PASSAGEM DE ANO 2014-2015 EM OLHO D’ÁGUA GRANDE, NO BAR DO TOINHÃO.