O casamento da princesa

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As festividades imperiais no Brasil eram efusivamente comemoradas em todos os rincões do território nacional. Aniversários, nascimentos, batizados e casamentos de membros da realeza eram festejados por toda a população, mesmo a mais humilde, mesmo a de excluídos. Da Hiléia Amazônica, passando pelos campos selvagens do Brasil Central, pelas zonas litorâneas mais habitadas e até às ermas caatingas do Nordeste, toda a população vivia uma euforia nestes dias especiais.

A Família Imperial simbolizava os bons costumes, a estabilidade da nação, o direito divino o poder político. Encarnava a moralidade, o progresso, o porvir e a esperança. Todos comemoravam, mas nem todos sabiam o porquê…Para que a memória não faltasse ao povo mais inculto nestas horas solenes, haviam os implacáveis ofícios reais, solenemente editados por todos os recantos do Império…

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FAMÍLIA IMPERIAL BRASILEIRA. DA ESQUERDA PARA A DIREITA: IMPERATRIZ TERESA CRISTINA, D. ANTÔNIO, PRINCESA ISABEL, D. PEDRO II, D. PEDRO AUGUSTO, D. LUÍS, CONDE D’EU E PEDRO DE ALCÂNTARA. FOTO DE 1888, POR OTTO HEES.

Para a eficiência da integração nacional nas festividades, tinha-se que vencer o problema dos precários meios de comunicação e as distâncias incomensuráveis para a época. Principalmente em relação às comunidades mais pobres e isoladas, distantes do Rio de Janeiro, como as do Brasil Central, as nordestinas e as amazônicas. Assim, os avisos das festividades eram dados muitos meses antes do dia da comemoração. Mesmo assim, geralmente chegavam atrasados. Eram geralmente decretos ou bandos, estes feitos solenemente ao som de tambores, pelas ruas e praças das vilas e cidades. Depois da declamação em público, o aviso era afixado na sede da administração ou na Câmara de Vereadores. Aí se tornava legalmente oficial.

Em alguns casos, como dissemos, as dificuldades de comunicação eram tantas que a comunicação só chegava à Vila muito após o ato consumado, o que é o caso de nosso relato. Mas o importante e respeitoso era comemorar.

Nas vésperas havia foguetório, luminárias, danças, tiros de bacamarte, missas,  repicar dos sinos e  muitos vivas à Família Imperial. Alguns mais entusiastas e abastados distribuíam doces e guloseimas aos mais pobres e realizavam saraus em seus casarões. Escravos costumavam ter folga para exultar os aristocratas. Era dia de se pernoitar nas calçadas e nas praças, comentando sobre pessoas e lugares tão longínquos e inacessíveis. Sonhos e fofocas sobre uma nobreza inatingível… Os mais exaltados chegavam mesmo a alforriar alguns escravos, segundo dizem.

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 FESTEJOS POPULARES NO TEMPO DA ESCRAVIDÃO. REPRODUÇÃO.

Um dos mais badalados casamentos do Brasil Imperial foi o da Princesa Isabel (1846-1921), a Redentora, como o francês Conde d’Eu em 1864 (1842-1922).

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 PRINCESA ISABEL EM FOTO DE 1887, POR INSLEY PACHECO.

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 O CONDE D’EU, EM IMAGEM DE CHRISTIANO JÚNIOR, DE 1870.

Os preparativos para seu casamento foram iniciados na década de 1860. Por indicação de sua tia, D. Francisca de Bragança (1824-1898), filha de Dom Pedro I e tia de Isabel. 

Casamento com antecedentes curiosos, pois em certa época vieram ao Brasil dois primos, os príncipes Gaston de Orleans (conde D’Eu), francês e Ludwig August de Saxe-Coburgo-Gotha, alemão (1845-1907), sobrinhos-netos do rei Leopoldo I (179-1865) dos belgas, sobrinhos de Dom Fernando II (1816-1885) de Portugal, além de primos-sobrinhos da rainha Victoria (1819-1901) e de seu esposo, o alemão Albert (1819-1861).

Diz-se que Gastão, o Conde d’Eu, era destinado a mais nova irmã de Isabel,  Dona Leopoldina Teresa (1847-1871) e que seu primo, Ludwig August, Duque de Saxe, destinava-se à herdeira. Com a convivência as princesas e os príncipes decidiram-se trocar o combinado: em 18 de setembro de 1864 o príncipe Gastão pediu a mão da Princesa Imperial do Brasil.

O casamento teve lugar na Capela Imperial, no Rio de Janeiro, a 15 de outubro de 1864. No mesmo dia os noivos partiram para a lua de mel em Petrópolis, e em 10 de janeiro de 1865 seguiram para a Europa, onde a princesa conheceu os sogros. Gastão, batizado Louis Philippe Marie Ferdinand Gaston, nascera em 1842 e morreu em 1922 em águas brasileiras, a bordo do navio Massilia. Era não só conde d´Eu como príncipe de Bourbon-Orleans, sendo feito depois marechal do exército brasileiro. Era filho de Louis Raphael (1814-1896), Duque de Nemours, por sua vez filho do Rei francês Luís Filipe I (1773-1850).

Um documento conservado no Arquivo Público do Piauí, datado de 1865, mostra a resposta atrasada da intimação oficial para os preparativos de comemoração na vila de Valença do Piauí, município localizado na porção central do Piauí. O casamento foi em 15 de outubro de 1864 e só em janeiro de 1865 a Câmara de Valença respondeu ao Ofício do Governo Estadual sobre os festejos. Como o ofício de volta deve ter demorado dias até chegar a Teresina, segue-se que entre o casamento da princesa e a leitura da carta pelo Presidente da Província houve um período de uns quatro meses.

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 MAPA DA COMARCA DE PRINCIPE IMPERIAL, DA QUAL VALENÇA DO     PIAUÍ FAZIA PARTE.  CONFECCIONADO EM  1850 PELO VISCONDE J. DE VILLIERS ADAM.

O ofício abaixo é uma resposta do presidente da Câmara Municipal da Vila de Valença a outro comunicado do presidente da Província, Franklin Américo de Meneses Dória (1836-1906). Ei-lo na íntegra: 

Ilm. Ex. Senhor.

A Câmara Municipal desta vila de Valença recebeu ontem com prazer o ofício de V. Ex. de 26 de novembro do ano findo, dando a grandíssima notícia do casamento de S. A. Imperial a Sra. Princesa Dona Isabel com SAR o senhor príncipe Luís Filipe Conde d’Eu, no dia 15 de outubro do mesmo ano, para que esta câmara expedisse prontamente as necessárias ordens a fim de ser condignamente festejado neste município tão grandioso acontecimento. Em resposta leva esta Câmara ao conhecimento de V. Ex. que ontem mesmo satisfiz a este dever, que lhe é tão agradável publicando editais convidando nesse município para o indicado fim a cada habitante desta vila para iluminarem a frente de suas casas e darem demonstração de regozijo por esse sucesso de tantas esperanças para o país e para a dinastia imperial, o que foi satisfeito ontem mesmo pelos habitantes desta vila e pelos membros desta comarca, que animaram os festejos com suas presenças e com os seus, posto que limitados recursos e elevando vivas à religião Católica Apostólica e Romana, a sua Ma. Imperador e S. Augustas família, e aos príncipes imperiais e reais e Sem. Luís Felippe Conde d’Eu e Dona Isabel.

Deus guarde a V. Ex.

Sala da sessão da Câmara Municipal da Vila de Valença, de janeiro de 1865.

Ilm. Ex. Snr. Dr. Franklin Américo de Meneses Dória, digníssimo Presidente da Província.

Faustino da Costa Velloso

Presidente

Jerônimo Barbosa Júlio, César Alves Martins, Manoel André da Silva Vicente Ferreira Bernardes (vereadores).

Fonte: wikipedia.org